sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Resenha CLOVERFIELD - Aqui você não irá ler que é uma mistura de Bruxa de Blair e Godzilla!


Por Nilton Rodrigues


Lá pelos idos de 1994 eu era um jovem e serelepe nerd, e junto com meu melhor amigo (também nerd) saímos do extinto cinema Ritz da última sessão de “Jurassic Park” com sorrisos de orelha a orelha. A partir dali, a dino-mania penetrava em nossos corpitchos (sem duplo sentido, seus madafacas), e junto, as clássicas perguntas de piazotes desocupados de imaginação fértil: “o que tu faria se tu visse um Tiranossauro dobrando a esquina agora?” ou “Se um Velociraptor viesse te atacar, tu pularia daqui (três andares)?”. O tempo passa, o tempo voa, mas a imaginação contínua numa boa, e como sempre fui fascinado por situações extraordinárias vividas por pessoas ordinárias, buscava na sétima arte uma maneira de encontrar um escapismo que encarasse com tamanha verossimilhança as situações que imaginava. A que mais se aproximou delas foi “A Bruxa de Blair” e olhe lá, depois disso, Necas de Pitibiriba.
2008. Fevereiro. Tarde quente. 13 Reais no bucho da entrada do cinema. Mas lhes digo (falei bonito!), foram os melhores 13 reais gastos na temporada de estréias bem xumbregas nas telonas Brasilis.
J.J Abrams (o fulano responsável por Lost) é nerd suficiente por fazer a alegria de multidões de cinéfilos e o terror da população de Nova Iorque no seu filme “Cloverfield”, que levou o subtítulo asqueroso de “monstro” aqui no Brasil, o que me leva a pensar se Indiana Jones fosse lançado hoje nos cinemas ficaria: “Indiana Jones – arqueólogo”.
Bueno, o filme pode parecer sem pé nem cabeça aos desavisados de plantão, a criatura surge do nada e sem explicações, e a filmagem feita com câmeras caseiras, com certeza não é nada usual e poderá causar estranhezas, mas no final das contas, “Cloverfield” é muito mais que isso. O protagonista não é o monstro do famigerado subtítulo, e a produção é muito mais que um blockbuster “inflado” pelas campanhas e pelo marketing viral que infestou a internet nos últimos meses. Cloverfield trata de esperança e redenção, lida com o fenômeno “reality” e o vício da geração YouTube, que registra tudo para os súditos cibernéticos, brinca com a paranóia terrorista de maneira séria, e o melhor, pela ótica de pessoas comuns como eu e você. Tudo é tão surpreendentemente palpável e real, que até as músicas que tocam na festa de despedida de um dos protagonistas são aquelas que escutamos por aí, e os papos na festança, idem. A ausência de trilha sonora é a cereja do bolo para a “pseudo-realidade” da quase uma hora e meia de projeção. Os personagens principais são as relações humanas, a força que faz com que no meio do caos tenhamos força para continuarmos sobrevivendo. Mas filosofias de botequim à parte, Cloverfield é pura diversão, é suspense e combustível para futuras discussões na internet (fiquem após os créditos finais seus madafacas e saberão do que estou falando, alias a única trilha do filme aparece neste momento, e é uma das músicas mais memoráveis e épicas que já ouvi para um filme deste gênero). Cloverfield é original? Não. É uma versão intimista do caos provocado pelos inspiradores King Kong, Godzillas e afins.
Cloverfield é digno de Oscar? Never. Cloverfield é uma película feita com amor por um cara que quando era piá também se perguntava “O que você faria se um monstro aparecesse do nada e destruísse tudo pela frente?”. J.J Abrams respondeu sua própria pergunta. E quem agradece somos nós.
NOTA: 9,5

Nenhum comentário: