quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

É tempo de máscaras!


Por Nilton Rodrigues


Carnaval realmente é um sarro. Falo isso porque esta data tem um poder tão descomunal de “desagrupar” o tempo e dividir o país em “antes” e “depois”, que faria o monstro de “cloverfield” parecer um carrapato num poodle micro toy. Este monstro que começa não se sabe quando e termina não sabe onde, é a perfeita representação da estagnação cultural e social de um país que martela insistentemente que a brasilidade veste fio de dental na passarela e entoa marchinhas já desprovidas de seu tom inocente sob o efeito de cervejadas na Sapucaí. Este período é quase uma semana de hiato sensorial, ou seja, quando os gringos pensam que brasileiros são macacos, talvez eles estejam certos, pois nesta época não escutamos, não falamos e não enxergamos nada, a não ser as mulatas e desfiles em todos os canais da TV aberta. Mas a quem interessa este “rombo” no calendário da “terra brasilis”? Queridos Zoneiros, já faz algum tempo que larguei a faculdade de História para ingressar no glamouroso mundo da propaganda e me aventurar no “ganho pouco mas me divirto” da comunicação, mas sou obrigado a recapitular o famigerado marxismo para explicar esta celeuma. Peço que larguem um pouco o copo plástico com cerveja quente pela metade e tirem os confetes do olho e analisem comigo: a mecânica carnavalesca é bipolar, reflete vontades de dois opostos que obedecem a desejos quase igualitários. A primeira é aquela dos foliões que fazem a máquina andar, é o famoso “amor à camisa”, os artesãos das escolas, os mestres-salas e demais “peças” que fazem o espetáculo acontecer. Um pessoal que mesmo sem saber é vítima de uma política social maquiavélica e associado a uma preguiça mental de questionamento, faz do “rombo-calendário” uma maneira de esquecer os trezentos reais por mês, o patrão explorador e o trabalho sem perspectiva. No outro extremo está o apreciador “cool” da festança, aquele que desde tempos palacianos necessita da plebe para divertí-los (ou alguém esqueceu dos bobos da corte?). E esta classe é, sinceramente, o maior representante da paralisia cultural deste país, lá estão as atrizes do “teste do sofá”, as namoradas de famosos pagodeiros como rainha de bateria, buscando ali uma maneira de inflar o cachê para a capa da revista “sexy” do mês de Março, os estrangeiros que pagam uma banana para estufar o peito e dizer “Carnaval, Pelé, soccer, mulata, ah eu tou malucou” e é claro os boyzinhos estudantes das melhores faculdades, moradores dos melhores condomínios, completamente chapados, que gravam o desfile para depois mostrar para os outros amiguinhos e dizer “olha eu ali, me acabei de tanto sambar”, isso sem esquecer o dado mais triste, é no carnaval que o turismo sexual cresce exponencialmente, mascarada sob um subterfúgio cultural. É o maior espetáculo da terra.
Paulinho da Viola em sua sapiência, já disse que o carnaval morreu e a alegria nesta data é quase um grito louco de SOS. Rir é bom, mas como diz uma letra do Frejat, “mas rir de tudo é desespero”, e acho que é mais ou menos por aí.
Outra questão que desafia a racionalidade de qualquer um, é o mantra sagrado: “no carnaval todo mundo é igual”. Béééé, resposta errada. Engodo total, no meio destes pólos, está uma classe que pemanece como uma espécie de “meridiano de Greenwich”, que renega tudo isso, que pensa e se diverte o ano inteiro, e não só apenas quando todos mandam colocar a máscara e dançar como um robozinho à pilha do Paraguai.
Zoneiro que é Zoneiro sabe do que estou falando, e como diz o homem do baú: “brinca e se diverte”, mas sabe também sabe que o carnaval está longe de ser a estradinha de tijolos amarelos que leva ao mundo de Oz. Folia boa é ser autêntico.

Ah, estranho a passagem de ônibus aumentar no carnaval, não?

Nenhum comentário: