domingo, 13 de abril de 2008

Resenha Mallu Magalhães em Porto Alegre. Te vira nos 30 Mallu!


Por Nilton Rodrigues


Uma noite chuvosa em Porto Alegre. Um show badaladíssimo, de uma menina badaladíssima num lugar mais que badalado pela molecada sapeca e moderna de Porto Alegre. Melhor que ficar em casa assistindo Zorra Total, é tirar as prova dos nove do maior fenômeno musical dos últimos anos: Mallu Magalhães.
Se for pra falar do péssimo profissionalismo dos seguranças do Porão do Beco, ou do atraso do show estaria escrevendo uma epopéia de oito partes, mas vamos ao que interessa.
Complicado resenhar um show destes. Primeiro, qualquer coisa que se fale em termos de críticas negativas, podemos encontrar uma bela fatia dos novos fãs que falarão “Mas ela tem apenas 15 anos, dê um desconto” (pode ser que eles estejam certos), mas em se tratando de música, o lance é mais sério, não é?
Talvez. Mallu Magalhães traz um frescor para a música que faz com que até o maior crítico musical fique desarmado perante tanta experiência lúdica ao cantar, ou traduzindo, traz diversão e espontaneidade, coisa que falta atualmente num cenário musical dominado por ídolos fabricados e marasmo criativo. Talvez este seja o grande trunfo de Mallu, a volta do toque criança, não infantil às melodias, quase um deboche ao cantar letras que falam sobre gatos voadores e palavras que não possuem sentido racional, que me faz lembrar o gozo que os Mutantes transmitiam nos longínquos anos 70. Verdadeiras crianças se divertindo.
Mallu é doce e meiga, que as vezes me pergunto se ela não é uma anã disfarçada. Sério, tamanha inocência é de se estranhar, a risada solta, as gaguejadas e os tiques já fazem do espetáculo algo no minimo bacaninha. Mas como Mallu não é comediante, aí que o negócio pega.
Existe algo muito perigoso que acomete estes fenômenos da era YouTube: dois cês, “Cult” e “Cool”, ou seja meus amigos, o cenário “Indie” é recheado de exemplos em que a excentricidade tenta “berrar” mais alto que o talento, que os penteados gozados parecem querer aparecer mais que a mensagem sonora, e o pior, o discurso piegas, para não dizer outra coisa, de que o Underground é melhor do que o Mainstream, como se a música voltasse para os tempos da aristocracia do século XVII, em que a arte era para poucos.
Mas felizmente o som de Mallu Magalhães parece (até agora) estar vencendo este estigma, usando sua voz, seu violão e seu som gostoso como armas. Mas e o show? Tudo isso infelizmente funciona no seu Mp3 player, por que no pega pra capar o buraco é mais em baixo. Quando vamos a um show, esperamos no mínimo arrepios, interação com o artista, quase uma comunhão em que a energia seja palpável no ar.
Claro que os estilos musicais “calibram” este arrepio para mais ou para menos, mas uma coisa é certa: precisamos sentir algo diferente. Infelizmente não senti (já sinto minha orelha doendo dos xingamentos). Claro que as historinhas engraçadas, as rizadas gostosas são um show à parte, mas fui lá para escutar música, e o que eu vi, foi um show mecânico, frio, calçado muito mais no caráter Cult da “bola da vez” do que numa prova incontestável de presença de palco.
Mas no frigir dos ovos, o negócio fica o seguinte: aquela desculpa lá do início do texto é real. A guria tem apenas 15 anos e tem um belo tempo para provar que além de ser a melhor do Mp3 player, é a melhor para fazer arrepiar, chorar e se emocionar ao vivo.

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