sábado, 19 de julho de 2008

RESENHA: Batman - O cavaleiro das trevas. De que empurrãozinho você precisa?

Por Nilton Rodrigues


Em 1978, o cinema via deslumbrado a estréia de Superman – o filme. Depois disso, a cultura pop levou um baque e nunca mais foi a mesma, a verossimilhança que Richard Donner imprimiu em cada frame iria influenciar toda uma geração de novos cineastas.
18 de julho de 2008. Uma data que marca a segunda era de ouro da revolução, uma data que entra direta e certeira no coração de fãs de cinema, quadrinhos, arte e expressão crível e honesta de um dos maiores ícones da história. Quando saí do cinema, o relógio marcava 00h:28min. Era o horário de mudanças. Mudanças de conceitos, de reflexão e principalmente de dúvidas. Afinal o filme era tão bom como eu acho que foi?
Pois antes das luzes se apagarem, imaginava que sairia do cinema eufórico, dando pulos de alegria, chorando de alegria assim como foi em Homem de Ferro. Mas o que aconteceu foi o contrário, as luzes acenderam, e me senti cansado, estraçalhado, pisoteado. Não vamos entrar em detalhes da trama, pois provavelmente quem está lendo isto, já está careca de saber, muito menos na análise e atuação pré -oscarizada do Coringa de Heath Ledger, um retrato insano, psicótico e anormal, como uma força palpável da decadência dos grandes centros urbanos, mas O Cavaleiro das Trevas É tudo aquilo que estávamos esperando e mais um pouco.
Sinceramente, estou redigindo esta crítica e não sei por onde começar. Estou boquiaberto, espancado por uma trama que mergulha fundo nas trevas do espírito humano, na infelicidade da cidade grande, na impotência que temos em relação a criminalidade. The Dark Knight é pessimista, não crê na absolvição das pessoas, embora fagulhas de bondade ainda brilhem aqui e acolá.
A sensibilidade e o respeito de Nolan pelo lirismo da personagem, só podiam resultar numa coisa: filmaço, com F maiúsculo, e principalmente uma coisa que este nerd que vos fala esperava desde que leu Cavaleiro das Trevas de Frank Miller em 1991: respeito pela dramaticidade das Hq's, como uma verdadeira fonte de arte e belas histórias.
Cavaleiro das Trevas me faz crer que todas as adaptações feitas até hoje foram um aperitivo para convergir até a obra de Nolan. Desculpem-me se não me alongar sobre tudo o que se tem falado na net nos últimos dias sobre o filme, mas o sentimento é maior que as análises. Um filme recheado de subtramas, de um uso ágil de câmeras, de metalinguagem, recheados de linguagem não verbal que só corroboram para o status de maior obra prima dos últimos anos. Basta analisar os momentos cruciais onde aparece o Coringa, um angustiante som cresce nos alto-falantes do cinema, como uma navalhada no cérebro, anunciando a chegada da loucura com lábios púrpuras. A ausência de som em momentos chaves quando Harvey Dent percorre seu caminho rumo a derrocada moral de um homem.
Quem pensa que o filme é sobre o Batman e seu nêmesis Coringa, está enganado. Dark Knight é sobre Duas Caras, sobre a manipulação do homem integro rumo ao caminho cego da loucura da cidade grande, é a metamorfose de um “cavaleiro branco” à um homem que tem sua face deformada (espelho da alma). Harvey Dent somos nós, o espectador que vai ao cinema, certo de sua sanidade, incorruptível, inviolável de seus princípios. Coringa é o lado escuro e sarcástico daquele que observa a tudo, que adora ver o circo pegar fogo, ou resumindo, aquele que aperta o detonador, e não a bomba. A bomba somos nós, é Harvey. Afinal, a loucura é como a gravidade, basta um empurrãozinho. E quem disse que você não será testado até os limites da corruptibilidade? Qual o impulso você precisa?
Nolan não admite frases feitas, os diálogos são brilhantes e as tiradas de humor são pertinentes e sempre dentro de um contexto. A película não se redime ao falar de tragédias e de finais infelizes. O filme não desperdiça exatamente nada. Som, coreografias, elenco, iluminação. O quadro está feito, chegamos a Renascença das adaptações das Comic Books. Bem-vindos a todos os privilegiados.
Quando as luzes se ascenderam, aconteceu algo que me deixou com um nó na garganta, que só havia presenciado em grandes espetáculos: uma salva de palmas. Por que será?
Nota: 10

2 comentários:

Ludimila Hashi disse...

Gostei da resenha e concordo com tudo.

Geras disse...

O MELHOR FILME DE TODOS OS TEMPOS DEPOIS DO SR DOS ANÉIS.
ATÉ OS OLHOS....