segunda-feira, 8 de setembro de 2008

RESENHA: Metallica - Death Magnetic


Por Nilton Rodrigues



Quando faço uma resenha, uso algumas variáveis: uma variável é o sentimento de ineditismo que a obra provoca, afinal mais de uma década escutando metal, me deu um certo know how para saber o que é oportunista e o que é sangue correndo nas veias. E a outra variável é a de tempo. Se meus ouvidos pedem que o play seja apertado repetidas vezes, é sinal de muito air guitar por aí.

E quando coloquei Death Magnetic, o novo álbum do Metallica pra tocar, um sorrisinho despontou no rosto. Depois de mais de 20 anos que o bando de rapazes cabeludos e com pinta de caminhoneiros do Kansas largaram o Thrash Metal e partiram para o maravilhoso mundo das roupas pretas de grife, muita gente torceu o nariz remelento para tudo o que a banda lançou. Mas como headbanger é mais chato que pastor evangélico, vou dar um desconto para essa manha de garotinhos metidos a rebeldes sem causa.
Load é um baita disco, diferente, experimental, empolgante em vários níveis e forçados em outros. Mas acima de tudo ousado, mostrando uma banda muito mais madura. Re-load como o próprio nome diz, é uma sobra da comida de ontem com queijo ralado em cima. Já St. Anger é um exercício de paciência, mas nem por isso deixa de ter seus pontos positivos.
Death Magnetic não é o melhor disco da extensa discografia da banda, mas com certeza é cheio de personalidade e pode estufar o peito e dizer com certeza que pelo menos é um dos destaques do menu. “That Was Just Your Life” abre o disco com um riff que mais do que um quê de “Blackend”, é um hino que grita “estamos de volta, velozes e furiosos”. E de volta estão os solos, e que solos. Alguns na velocidade da luz que parecem trazer os tempos da Bay Area de volta.
Mostra um velho/novo Metallica com um sabor que desce redondo. “The End Of The Line” é sensacional, ali mora um adormecido “Master of Puppets” com a cara do século XXI, com pratos sendo esmurrados por Lars e estrofes cantadas com raiva a lá “Creeping Death”. Um Riff principal cheio de Groove, influência do “baixista-dança-do-siri-man” Robert Trujillo.
“Broken, Beat & Scarred” mostra que James não perdeu o jeito, e mantém uma palhetada que dispensa virtuosismos e zilhões de notas por segundo, mas segura uma pegada heavy, trabalhada, deixando a canção orgânica.

“The Day That Never Comes” é a famigerada música de trabalho, aquela que agrada a gregos e troianos, com riffisinho mais pesado lá no maio para não deixar os chatos de plantão dizendo que a banda se vendeu, saca?

Mas é em “All Nightmare Long” que o seu pescoço vai para o espaço de vez. Escute meu filho, escute. Um Riff que mais parece um helicóptero, com hélices que vão cortando todos os detratores pelo caminho.

“Cyanide” é aquela música tocada ao vivo, ou seja, alvo de pedras, xingamentos e um monte de coisas sem um pingo de argumentação. Uma canção que pegou um riff de Load com um refrão vindo diretamente dos anos 80. Daqueles de cantar com o braço para cima rangendo os dentes.

Aos 30 minutos do segundo tempo, o time parece estar cansado, pois “The Unforgiven III” é nula. Não se trata de uma música ruim, mas não acompanha a marcha de tanques de guerra que são as primeiras músicas, mas principalmente é incomparável às duas primeiras.

Esta chegando ao final do jogo, e a partida que decide se o Metallica é uma das melhores bandas de metal do planeta está a favor de James & Cia. “The Judas Kiss” é interessante. Um riff meio duro, para não dizer chato, mas mesmo assim cativa e ao vivo deve ganhar uma explosãozinha no palco na hora que James canta “Blow Down”.
Agora é hora de “Suicide & Redemption” , quase que a banda leva a sério a primeira parte do nome da música. Esta sim é um sacrilégio. Uma instrumental de quase 10 minutos que para ser ruim precisa melhorar. É uma sombra em dia de chuva de “Orion”, por exemplo.

E para finalizar “My Apocalipse”, uma pedrada, um soco na cara, um riff que entrou no Delorean de McFly e caiu de pára-quedas em 2008. Um Metallica do jeito que gostamos, um Metallica com cheirinho de pão novo.

Death Magnetic segue a risca a ordem de bons álbuns: partes de arrepiar, partes meia-boca, partes chatas para uns e excepcionais para outros. Mas de uma maneira geral, um ótimo disco. Um atestado de reabilitação, uma alta da UTI. Tudo continua como Dantes no Quartel de Abrantes (antes de 1988). E que ninguém nos escute: (ainda bem).
Nota 8,5

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