quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Admirável mundo novo!


Por Nilton Rodrigues


As vésperas do maior espetáculo metálico que porto alegre já viu, o show da banda inglesa Iron Maiden, começo a (re)avaliar o papel do ídolo na vida de uma pessoa, do dito “fanatismo” ao "é bacana, até curto". E em termos musicais não adianta chiar, é só no rock que este fenômeno acontece em maior escala, e se afunila ainda mais quando é na ovelha negra do estilo, o apedrejado Heavy Metal, e segmenta-se ainda mais quando o assunto é Iron Maiden.
Falar de ídolo é falar do pai, da mãe, ou pior, é defendê-lo com unhas e dentes quando estranhos levantam o dedo em riste e o peito estufado cheio de razão dizendo “cresce guri”, ou o “que tu vê nisso?”. Sabemos que quando a vida adulta chega, o dito normal é acordar cedo, fazer aquela paradinha no horário do almoço, ir embora às 18hs, tomar uma cervejinha com o colega de trabalho e reclamar um pouco do chefe. Tudo isso obviamente abstraindo-se de qualquer paixão que você tenha por algo mais que não se encaixe no horário comercial, afinal você é um homem sério e homens sérios não se dão ao luxo de assimilar letras de músicas que falem de fantasia que criam mundos sonoros, no máximo você pode “balançar o esqueleto” na festa de seus amiguinhos que também são adultos responsáveis e dizer que aquela música que está tocando é “maneira” e quando aquela garota que te esnoba te perguntar que estilo de música você curte, tentando parecer o mais descolado e por mais triste que parece você vai responder: “curto de tudo, sou eclético”. Um sintoma claro da falta de ídolos. Falta de ídolos é falta de você mesmo, falta de conhecer você como você conhece aquele colega que tanto critica nas “festas da firma”, ou pior, é se abater e reclamar como um louco da sua vida, porque você não tem nada ao que se apegar (a não ser ao seu trabalho, e o seu ídolo seja um monitor LCD). Voilá, mais um mala saindo do forno.
Adoro também a maneira como aqueles cheios do moralismo comprado no bazar da esquina, tentam de qualquer maneira provar a todo custo o seu ponto de vista, sua maneira unilateral de compreender o mundo. Como um vendedor de telemarketing, os moralistas mostram sempre um leque tão grande quanto o seu umbigo de argumentos que são embasados quase que sempre na sua falsa auto-afirmação e auto-suficiência, argumentos do tipo: “eu não gosto de ninguém” (obviamente fazem exceção aos seus pais e alguns seletos amigos escolhidos pela “mão divina” do moralista), podem ter certeza, quase sempre suas vidas são em preto e branco.
Ter um ídolo é ser visceral, autêntico, compreender que muitos percalços podem ser remediados com uma música, ter um ídolo é tornar sua vida mais quente, mais “do it yourself” com um fone no ouvido. É muito mais: foda-se o resto!
Talvez mais que isso, a ausência de ídolos é uma falta de respeito com sua própria história, é mentir que sempre quando você estava mal eles estavam lá, não em corpo e alma, mas em peso e decibéis, quando te faltavam palavras para explicar, ou quando sobravam bobagens para dizer, eles estavam lá, eternos ouvintes e oradores, só para você.
Não ter ídolos é esquecer que muitas vezes, eles te deram força, mesmo sabendo que seus corpos físicos talvez estivessem tomando chá das cinco em Londres, nem sequer sabendo da sua existência. É esquecer de quando você estava amargurado e saia na chuva chorando com os fones no ouvido, é esquecer que saia pela rua sorrindo como um protagonista de videoclipe, estavam lá para você, e magicamente tudo o que eles dizem naquele peso é para você, e para mais ninguém.
Ter um ídolo é lamentar por quem não tem, é ser altruísta em ao menos pensar que a vida daquele que você gosta poderia ser um pouco melhor se sentisse um décimo deste admirável mundo novo.
O homem normal, ah, o cara tradicional, aquele que fala de trivialidades com o porteiro, que fala do tempo com o colega no elevador, que é o descolado talvez nunca saiba disso, talvez nunca sinta essa energia palpável. Pode ser que ele sinta um pouco cortando a grama da sua casinha tradicional.
Então quando for para a fila no dia 5 de março, erga os punhos para cima como um guerreiro e grite, com a única diferença que eles estarão falando aquilo que falavam no seu fone de ouvido, para uma nação que pensa como você.

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