segunda-feira, 14 de julho de 2008

Bem-vindo ao mundo sem regras.


Por Nilton Rodrigues



Dia 18 estreia The Dark Knight, o novo filme do homem morcego. Mas alguns de nós sabemos que esta data é muito mais que uma estréia de um blockbuster campeão de bilheteria. Para quem acompanhou em 2003 o ínicio da “ressureição” cinematográfica do Cavaleiro das Trevas, resultando no espetácular Batman Begins em 2005, sabe que não se trata de uma simples adaptação para as telonas, mas sim uma verdadeira ode à um dos maiores ícones pop da nossa história.
No ano em que a editora DC comemora 70 anos de sua fundação, e amarga uma temerosa crise editorial, com sagas absurdas e artistas desmotivados, eis que em pleno septuagenário, surge uma peça que pode mudar a história da indústria nerd. Estou falando de The Dark Knight.
O diretor Christopher Nolan é um santo. Ponto final. O mundo ainda estava cicatrizando depois de dois tiros denominados “Batman Eternamente” e “Batman & Robin”, daquele diretor cujo nome não podemos dizer.
Para o mundo, Batman era sinônimo de mamiquinhas, carnaval e bat-cartões de crédito, anos luz daquele Cavaleiro das Trevas que Bob Kane pariu em 1939.
Batman é o personagem literário (claro que podemos chamá-lo assim) que possui em sua essência, a maior carga dramática depois de seus colegas góticos Drácula e Frankenstein, ambos também vítimas de suas dualidades e atormentados por traumas (pós) vida. Todos caracterizados por “antes e depois”.
Nolan enxergou, capturou e jogou na cara do mundo o verdadeiro espírito do Batman, e as “trevas” do cavaleiro nunca ficaram tão auto-explicativas.
Mas dia 18 de julho é mais que uma estréia, e visto as críticas especializadas DE VERDADE, o filme é um marco, sendo comparado até mesmo ao Poderoso Chefão II (aguardem resenha completa), é uma data para pensar.
Explico: Batman é a força motriz do espírito crítico humano. E ao contrário da enxurrada de marketing que acompanha o filme, ali está presente uma ideologia que é pertinente aos dias de hoje. Uma verdadeira aversão ao caos social.
Batman significa as trevas do espírito humano ao não conformismo da desordem. Um sentimento de entrega à força de vontade de fazer o mundo um lugar justo, mas ao contrário de seu colega de editora Superman, não usa a benfeitoria como ajuste, mas sim, o ódio, e talvez a própria insatisfação em saber que a maioria dos seres humanos que matam, estupram e violentam a nossa sociedade dia a dia, estão aquém de uma recuperação e do próprio perdão.
Alguns dias atrás uma pessoa próxima à mim foi vítima de uma tentativa de estupro. Como cidadão pensante e de bem, está claro que a lei é como uma cereja num bolo estragado. Serve para enfeite, mas na realidade quase ninguém a usa.
Desde pequenos, somos ensinados a achar que tudo passa, tudo passará, que o crime existe e que temos que nos cuidar, e até mesmo, esse sentimento de “normalidade” é (desculpem-me a falta de um termo melhor) normal. Que a sociedade é este prato feio, mas que se fecharmos o nariz, é até digerível.
Estamos fartos da falta de estúpidas enganações, pois ainda ontem, os criminosos ainda mentiam, tentando esconder suas “escapadelas”, mas hoje, o crime zomba de nós, enquanto uns são presos por matarem a fome dos filhos, outros são soltos por roubarem. A inversão da ordem social, um desequilíbrio do Feng Shui urbano.
Mas somos como cavalos de arreio, com viseiras, tentando esconder nossa visão periférica e gargalhando com as péssimas piadas da novela das oito. Tudo passa, tudo passará.
Se não é você, será eu o esfaqueado, se não for eu será o meu vizinho morto e fuzilado por um par de tênis e uma carteira com a foto da namorada dentro... e a partir daí meus amigos, o problema não será meu. Mas de quem será?
Talvez faltem os Batmans, não falo de um sentido moralista e panfleteiro (oh! Vou salvar os fracos e oprimidos), mas sim, aqueles que tenham força de vontade, aquela força que motivou o jovem Bruce Wayne ao sacrifício, ao enxergar seus pais mortos numa calçada suja de Gotham. Vitimas de um ceifador, alguém cujo nome é uma estatística em uma cidade grande.
Chris Nolan nos deu o Batman que sempre esperamos: adulto, reflexivo e acima de tudo, um enterteiner. E agora nos presenteia com o Coringa do falecido Heath Ledger, a antítese da vontade, a loucura, a injustiça, a impotência, é o sorriso na cara de Daniel Dantas, aquele que não achamos graça, mas nos assusta.
Os heróis estão aí para nos inspirar. Gritam em balões mudos de uma revista em quadrinho tentando serem escutados. Mas este não é o papel da arte?
Mas não espere parar as balas com o peito, ou tentar correr mais rápido que uma locomotiva. Você pensando criticamente a respeito já é um heroísmo.

Um comentário:

Alexandre Luiz disse...

muito bom o texto. muito relevante tendo em mente nossa atual situação urbana. infelizmente nossa massa não é crítica, inconformada... afinal, é massa...

não admira o tom do novo filme ser tão pessimista em relação a esperança.

parabéns pelo blog