quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Crise monstro!


Por Nilton Rodrigues


Alan Moore no alto de sua adoração pelo Deus Lagarto e de suas lisérgicas viagens à base de haxixe, expeliu algo de bom daquela boca cheia de barba. Certa vez o maluco disse que a indústria do cinema sofria de “imbecilismo”, que entregava tudo mastigado para o espectador, anulando assim, a inteligência do meio.
Moore já é uma figura folclórica, muitas de suas sandices fazem parte de um charme que adoramos incentivar, mas se querem saber, acho que desta vez o cara está certo.
Aproveitando o revival da cine-série Sexta-Feira 13, do sucesso de bilheteria e de todo o “auê” em cima, me questiono até que ponto este sucesso é fruto de uma obra bem construída e simplesmente divertida, ou é resultado de uma saga já mastigada e regurgitada pela audiência? Ou trocando em miúdos, é mais fácil engolir Jason do que assimilar outros monstros?
A análise da audiência não mente: a maioria que lotou os cinemas neste fim de semana é majoritariamente masculina e acima dos 18 anos, até porque a censura “R” acaba por diversas vezes, matando o lucro do filme, fato este, que não ocorreu com a mais nova versão cinematográfica do assassino com máscara de hockey.
Motivo? Fãs nostálgicos que já acompanharam a série e a fizeram referência em filmes de horror.
E se procuramos respostas nas afirmações de Alan Moore, podemos chegar à razão da nova galinha dos ovos de ouro de Hollywood: as adaptações de histórias em quadrinhos.
Personagens clássicos, digeríveis e de conhecimento popular, e se não bastasse, recheados com estrelas de grande porte e com efeitos especiais mirabolantes para fazer a festa de qualquer som 5.1.
Existe algo de estranho no ar. Por que não temos novos clássicos de horror? Onde estão os mascarados psicóticos do século XXI? Se quisermos responder tais perguntas, teremos que entrar fundo na toca do coelho branco, e como tal lugar é uma incógnita, suas respostas também sejam.
É fato que o gênero de horror é marginal por natureza (até já falei sobre ele num outro post), toca em pústulas da sociedade. Assuntos que costumes, regras e religiões calaram.
O gênero será a eterna ovelha negra da sétima arte. E investidores sentem isso e por mais profissionais que sejam, ficam temerosos em aplicar rios de dinheiro numa obra com lucro incerto, afinal, estamos falando de negócios. E monstros em plena era de “caso Isabela” talvez não sejam tão monstruosos assim. Fatores estes, diminuem o papel dos monstros na sociedade moderna, que prefere a lembrança de bons tempos a novos sustos.
Mas como todo marginal que se preze, o gênero não pode esperar pelos caprichos dos produtores e precisa correr atrás da máquina. Graças à criatividade de jovens diretores e o ineditismo de roteiristas desapegados ao mainstream, a cena de horror sobrevive muito bem no underground do cinema, produzindo belos filmes agraciados por festivais ao redor do globo, premiando e reconhecendo novos artesãos do medo para uma nova plateia sedenta de sangue.
Existe aquele papo: “quem quer, precisa procurar”, mas com este argumento caímos na elitização da arte, assim como acontecia nos primórdios do século XVII, o que torna cada vez mais delicada a produção de novos monstros.
Indiferente de posição ideológica sobre o horror, o que precisamos é de inteligência dentro das telas, e isso meu amigo, não precisa fumar haxixe para saber.

Nenhum comentário: