terça-feira, 30 de março de 2010

Lost. De que lado você está?


Por Nilton Rodrigues


Muito já se falou sobre Lost, ou melhor, teclou. Lost é a série do século XXI. Entre twitadas em tempo real à exibição dos episódios, passando por discussões acaloradas em fóruns e blogs, está chegando o fim do maior fenômeno pop da televisão dos últimos tempos. O encerramento da saga dos sobreviventes do voo Oceanic 815 marca também o fim de outro "pequeno" detalhe: a inteligência na telinha.
Quando a série estreou em meados de 2006 aqui no Brasil, ela já veio platinada. Havia sido premiada com o Emmy, o Oscar da TV, além da benção da audiência americana. Mas por aqui muitos viam a série como uma mistura do reality show No Limite com o sucesso estrelado por Tom Hanks, Náufrago. Aos poucos, para quem quis se aventurar na ilha junto com os personagens, Lost se transformou num jogo de mistérios, dramas, tragédias, redenção. Um exercício de raciocínio tão prazeroso onde quem ganha músculos é o seu cérebro. Quem acampanha a série desde o Walkabout de Locke, percebeu que o trama não é sobre um monstro de fumaça, números cabalísticos ou viagens no tempo, mas sim, sobre pessoas e predestinação. É claro que sem os mistérios, Lost seria como sorvete sem calda quente. Sendo assim, numa era em que para ter opinião basta uma conexão, Lost virou o prato cheio para se transformar na série mais participativa de todos os tempos, culpa da sua multitemática, que reune gregos e troianos, do nerd fissurado em referências egípcias e física quântica ao espectador an passant mais interessando com quem Kate vai ficar.
Na atual sexta e última temporada, assim como os protagonistas da série, os fãs parecem estar tomando partido de alguma facção : os que estão no lado de Jacob (ou dos produtores Damon Lindelof e Carlton Cuse, e acreditam que os famigerados flash-sideways não são uma enrolação e, assim como em outros momentos na série, vão somar na narrativa), ou aqueles que seguem o Homem de Preto (ou eternos amargurados, que nunca ficariam felizes com a maneira que as respostas serão dadas, que esperam um final de acordo com as suas expectativas e provavelmente já decretaram o fim da série mesmo faltando metade da temporada). De que lado você está? Eu ainda confio em Jacob até que me provem que o cara é um charlatão.
De qualquer forma, a despedida de Lost da televisão significa tirar o pé do acelerador da criatividade, simples assim. Na realidade, Lost vai é deixar saudades no peito mesmo. Pode parecer bobagem, mas para um maniático como eu, esperar toda terça-feira um novo episódio, comentar com amigos e teorizar sobre tudo já era um ritual, um namoro digital com quase meia década de duração. E como todo relacionamento, quando acaba, dói. Ainda bem que ao contrário das fotos de ex-namoradas, os DVDs ficam na estante sem perigo das atuais rasgarem num acesso de ciúmes (assim esperamos).

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