sexta-feira, 23 de maio de 2008

RESENHA - Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal: de relho na concorrência!


Por Nilton Rodrigues


O mundo mudou, o cinema é hoje uma espécie de “an passan” popular no mal sentido. Todos olham todo e qualquer tipo de filme com um olhar reto, unilateral e geralmente desprovido de paixão. Numa época em que os Torrents, compartilhadores de vídeos, os googles da vida, entregam uma produção meses antes de uma estréia, sem falar nos casos mais crônicos, em que a própria película cai na rede, provocando uma hecatombe financeira nos estúdios. Todos estes fatores fazem com que a audiência perca todo o tesão, e se necessário, a paixão pelo filme, e como resultado, é mais passível de críticas baratas.
Falo tudo isso antes de entrar em Indiana Jones, pois hoje, é muito mais fácil criticar que ontem, todo mundo é um técnico cinematográfico, e parodiando sua irmã do campo de quatro linhas, todo mundo “sabe o que diz”, esbraveja a plenos pulmões o que quiser, e se necessário sepultar a produção sem nenhum escrúpulo, sem nem ao menos levar em conta as aspirações de nosso tempo de seus realizadores, será feito.
Bueno, Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal deve ser visto como uma viagem no tempo. De volta aos anos 80, umas boas-vindas ao cheiro de naftalina, com direito ao logo antigo da Paramount Pictures no primeiro frame do filme. A sensação de voltar a década de 80 é sentido até mesmo na sala de cinema, onde um tiozinho dispara uma frase clássica que não ouvia há 20 anos: “Só em filme mesmo!”
O melhor elogio para IJ eo RCC (chamarei assim, pois estou com preguiça de escrever o título inteiro), é dizer que é puramente Indiana Jones. Os vilões caricatos, o humor pastelão de bom gosto, a ousadia “só em filme mesmo”, e o principal, o renascimento daquele menino que existe em você, que por breves momentos deseja ser um arqueólogo, lutar contra bandidos ao melhor estilo das matinês dos anos 50, e caçar tesouros bíblicos - Ou seja, uma volta aos melhores anos de nossas vidas. Basicamente IJ e RCC é isso, um reencontro. A visita de um velho amigo, e juntos, brincar até cansar. Claro que IJ e RCC tem seus deslizes, a história demora um pouco para engrenar, perdida em meio à explicações chatinhas até encontrar o cerne de seu roteiro. Determinadas cenas de ação são exageradas, causando um certo desconforto ao saber que Indiana escapa ileso de uma explosão atômica escondido dentro de uma geladeira, por exemplo.
Mas a estrutura narrativa é idêntica aos seus filmes anteriores, fazendo com que sua audiência tenha uma rápida identificação e digestão da trama.
O fascínio de Steven Spielberg por Ets alcança o famoso arqueólogo, quando Mutt (o excelente Shia LeBeouf), convoca Dr. Jones a se embrenhar nas florestas do Peru em busca das famosas Caveiras de Cristal do título, e em meio disso, muita (eu disse muita) ação, que vai do deserto de Nevada às Cataratas do Iguaçu. Ah, e uns comunistas Russos para temperar (Cate Blanchett em um papel de uma vilã essencialmente Indiana Jones).
Para delírio dos saudosistas, algumas citações à trilogia clássica aparecem no decorrer do filme, como a Arca da Aliança e a foto do Dr. Jones “pai” na mesa do nosso herói.
Harrison Ford já carrega no rosto as marcas do tempo, mas em compensação, sua disposição física é de fazer inveja a muitos jovens por aí (soy jo!), ressaltando que a maioria das cenas de ação, dispensou os dublês.
Enfim, gostei do novo Indiana Jones, voltei por duas horas para aquele tempo em que éramos felizes e não sabíamos, com “Porta da Esperança” aos domingos e “Sessão Aventura” de tarde depois do colégio.
Mas como falei no inicio do texto, IJ e o RCC será dissecado, examinado, julgado e condenado por críticos metidos a espertalhões munidos com uma verborragia intelectualóide mais indecifrável que os hieróglifos estudados pelo Dr. Jones, tentando provar que esta ou aquela cena é impossível de acontecer, que nada existe, e mais, tentarão te provar que cinema não é um playground, e que fazer filmes tem que soar como uma faculdade cheia de professores chatos e burocráticos. Talvez esses caras precisam aprender uma coisa com os senhores Steven Spielberg e George Lucas: ser criança.
Nota: 8

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