terça-feira, 13 de maio de 2008

RESENHA - Os Jetsons, digo...Speed Racer!


Por Nilton Rodrigues


Quando é dada a largada para Speed Racer, logo na primeira volta já começamos a sentir enjôo, e pode ter certeza de que não se trata da adrenalina provocada pelo tunado Mach 5.
Dirigido pelos “irmãozes” bala xaxá, os mesmos responsáveis pela trilogia Matrix, o filme derrapa em várias curvas cinematográficas. Bueno, vamos lá: Primeiro, vamos imaginar o diálogo dos brothers ao sentarem na mesa da cozinha para conversarem sobre Speed Racer – O filme:

- Mano, temos que fazer o filme daquele desenho japônes, como é o nome mesmo...Speed Racer, mas temos que estourar a boca do balão, já que revolucionamos o cinema com Neo e cia. ltda, e o público espera algo que seja do mesmo nível para cima, e agora?
- Já sei, vamos inventar um monte de efeitos bacanérrimos com luzes, que parecerá que o espectador tomou LSD, e com certeza galera vai a-m-a-r!

Pois é brothers xaxá, a coisa não é tão simples assim. O grande trunfo do desenho original era se valer da simplicidade, do charme retrô e da premissa simples de paixão por carros e o espírito competitivo acima de tudo. Speed Racer (o desenho) é Jovem Guarda, é o carrão (uma brasa, mora?), é o lenço no pescoço e a calça boca-de-sino da personagem, isso é que fazia o desenho ter vida, esse era a magia da coisa toda. Claro que não esperamos que os produtores voltem ao passado e transponham da telinha para a telona, fielmente, sem liberdades criativas e todas aquelas balelas, mas sim, que realcem seu grande “sex appeal” proporcionalmente ao tamanho da tela de cinema.
O que vi foi uma tentativa frustrada de revolucionar o gênero “filme família”, descaracterizando um personagem icônico e importante para muitas gerações (pergunte para aquele seu tio moço/velho), montando um mosaico de imagens em ritmo vídeo-clipe numa sociedade utópica e psicodélica, que mais parecia uma mistura do mundo dos Jetsons, com seus jatos e monitores voadores, e das pistas de corrida Hot Wheels do meu sobrinho de 4 anos, temperado com a fase bônus do Sonic do Mega Drive.
Mas se isso não bastasse, o filme não engata a segunda em nenhum momento até a metade para o fim. Um festival de clichês do tipo “a verdade está dentro de você” e “quando chegar o momento, você vai descobrir”, misturado com figurantes inexpressivos (retire o Corredor X do filme, e me diga que falta faz).
Até mesmo a direção de arte do filme, que pelos trailers parecia algo de babar (e é mesmo, se consumido moderadamente), chega um determinado momento que você pensa “tá bom, e agora?”, e sem falar que tanta cor e tanta luz piscando, deverá causar epilepsia em crianças mundo afora.
E por falar em cores, o amigo Zoneiro notou a fixação pelo roxo? Não ficava três minutos sem aparecer a maldita cor. Tinkiwinki ficaria orgulhoso (e a comunidade gay em polvorosa).
E o roteiro...bom, que roteiro? Nesta hora notamos uma dicotomia das brabas. Ao mesmo tempo que os irmãos tentam a todo custo fazer um filme mais infantil, inserem uma trama confusa aos olhos dos picorruchos, com patrocínios esportivos, flashbacks que não “descem redondo”e diálogos confusos tentando encobrir os clichês.
Mais uma coisa: aquele Gorducho é constrangedor, parece aquelas crianças dos filmes com Renato Aragão e “grande” elenco, de tão forçado. É boboca, sem graça e irritante.
Mas nem tudo é sofrimento. Susan Sarandon, que quase entra muda e sai calada, está no ponto, o Mach 5 é de babar e o Macaco é comediante por natureza.
Na última volta, quase na bandeirada, a sensação que fica é que até Rubinho Barrichello faria melhor.
Nota: 4,5

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