sábado, 17 de janeiro de 2009

All Star Morrison


Por Nilton Rodrigues


Janeiro de 2008. Em terra brasilis marcou a extinção de um planeta chamado genialidade, habitado por um excêntrico careca capaz de enxergar além e voar mais rápido que qualquer cérebro em perfeita sanidade lírica. Digo isso porque infelizmente chega ao fim o arco do famigerado All Star Superman, de Grant Morrison e Frank Quitely.
Para quem lê a nona arte desde o tempo em que não sabia ler (seja lá o que isso signifique), sabe que boas histórias, atualmente, são uma exceção, e com isso, novos clássicos são de difícil parto, ou quando nascem normais, são abortados no meio do caminho por pais displicentes e megalomaníacos.
Superman É o maior herói de todos os tempos. E quando falo “herói”, livrem-se de seus viciados conceitos, com suas frases feitas e suas buscas editoriais pelo Top 10 das comic stores. Superman é um exemplo de moral, civilidade, humanidade e humanismo há tanto esquecidos pelos “mocinhos” que explodem cabeças como se fossem bexigas.
Superman pode ser vintage, antiquado, mas é a reminiscência dos tempos onde sabíamos o que era certo,e não o que é mais cool.
Na obra de Morrison, o ultimo filho de Krypton teve um tratamento de gente grande com a simplicidade de um coração de menino. Durante as 12 edições, fomos apresentados a um novelo mitológico de interpretações sobre o herói: o messianismo, o Übermensch de Nietzsche e a questão extraterrestre, mas Morrison conseguiu fazer deste novelo uma manta que só tem um objetivo: nos aquecer com diversão, nos lembrando que, histórias em quadrinhos (ainda) são divertidas pra cacete!
Antes de falar de Morrison, quero falar sobre Frank Quitely, o artista responsável pela atmosfera de Grandes Astros. Ainda não consegui decifrar se Quitely é um debochado ou um gênio. Sua arte invoca detalhes imperceptíveis e até renegados pela maioria de seus colegas de profissão: engrenagens realistas, dobras nas roupas e até mesmo um simples pó salta aos olhos do leitor, ganhando em profundidade e originalidade. Isso sem contar que seus desenhos possuem uma certa hipnose e vertigem, e pulsa veracidade em cenas de vôos e na ausência de gravidade. Frank economiza nos traços, consegue ter uma personalidade única, com ar de matinê de ficção científica e ao mesmo tempo ser tão surpreendentemente assustador quando tem que ser. Quitely não usa fórmulas feitas tão disseminadas nas explosivas páginas duplas tão marcantes nos dias de hoje, mas usa da sua simplicidade como o seu maior diferencial e carisma dentro da indústria.
Mas o grande mètre desta iguaria é mesmo Grant Morrison. O escocês louco. Ao ler All Star Superman, sua narrativa é poética, bela, melancólica, e acima de tudo, à frente de tudo que povoa as bancas atualmente.
Diferente de sua obra mais autoral, “Sete Cavaleiros da Vitória”, onde a eloqüência e o surreal (e até mesmo o incompreensível) alcançavam níveis estratosféricos, em All Star, Morrison joga na mesa a simplicidade (não o simplismo) da Era de Ouro dos quadrinhos. E sejamos sincero, a DC é a editora que mais contém elementos e mitologia para tornar uniformes circenses e nomes estranhos em um universo palpável povoado de ciência e histórias por mais bizarras que possam parecer, críveis.
Desde o número 1, Morrison foi construindo uma épica história, e, que se pudéssemos voltar no tempo, a chamaríamos de uma versão menos blockbuster e “Michael Baylizada” de “A Morte do Superman”.
E na verdade, a premissa da história possa ser mesmo essa. Só que como estamos falando de qualidade e não quantidade, o background acaba sendo muito mais que isso, e revela-se uma jornada dentro do coração do homem de aço. E por mais que estejamos há setenta anos escutando a tríplice paz-justiça-igualdade nas histórias de Superman, nas mãos de Morrison essas verdades universais acabam ganhando um mais que bem-vindo sabor de novidade, e o melhor, sem soar como moralismo americanista ou catequização barata.
Grant não tem vergonha, e talvez seja este o seu maior mérito, de criar o non-sense. Nomes fictícios de galáxias, poderes e dimensões soam tão magníficos e refrescantes, que só corroboram para o Eisner adquirido pela série. Além disso, o autor brinca com a ciência de uma maneira quase afável. É como se grandes mestres como Arthur. C. Clarke e Ray Bradbury fossem fanboys.
Até mesmo os maniqueísmos trabalham a favor. O eterno vilão Lex Luthor está lá como deve estar: um vilão. E isso significa que ele está eternamente predestinado a quase ganhar. E é claro que Morrison sabe disso. Que bom.
A trama desfila por partes poéticas, como a “visita” ao planeta Bizarro, os campos do Kansas e até beijos apaixonados em crateras lunares.
Enquanto autores como Grant Morrison colocarem o HOMEM na frente do SUPER, saberemos por que algumas histórias possuem coração.

2 comentários:

Marcelo Soares disse...

Não consigo entender como a Warner não pega um cara como MOrrisson e da o roteiro do filme do azulão para ele, acho que é isso q ue falta numa adaptação século 21 do SUper: colcoar ação, tecnologia, nomes complicados, juntos com o Homem por trás do simbolo, e o simbolimos que esse traz. Afinal, Singer quis fazer isso, ams fez da forma errada, exagerando no melodrama, e esquecendo do lado fantasioso do personagem.

desde já espero o Encadernado da fase (e olha que tenho os 12 numeros quase completos).

Vida Longa ao Ultimo Filho de Kripton.

Garcia Junior disse...

Concordo com Marcelo. Podiam dar o roteiro pra um cara como Morrison, ou o próprio e teriam uma ótima versão do Superman guardando todo o respeito pela sua mitologia e história.