segunda-feira, 16 de novembro de 2009

RESENHA - Gênesis por Robert Crumb


Por Nilton Rodrigues



Sei da importância histórica de Robert Crumb para as HQ`s. Sua arte suja e desproporcional combinava com a marginalidade dos quadrinhos underground em plena época da contra-cultura, lá pelos idos dos anos 60. Mas mesmo assim, confesso que nunca corri atrás de alguma obra do artista, até hoje.
Quando foi alardeado aos quatro ventos que Crumb revisitaria o Gênesis, o Livro da Criacão, respeitando o texto original, logo me interessei, mais pela ousadia em si (acho a bíblia brilhante, liricamente falando) do que pelo nome do autor estampado na capa.
E o resultado final? Bom, quando a criatura vai à livraria comprar o Gênesis em quadrinhos, está na cara que ela busca mais que uma leitura rápida, descartável e, principalmente, fora dos padrões Marvel/Dc que permeiam as bancas.
Gênesis de Robert Crumb precisa ser consumido em doses homeopáticas, sob risco de um AVC, tamanha a densidade e informações que o texto carrega, além de uma linguagem levemente arcaica e laica, afinal, são milhares de anos, nomes, clãs familiares, linhagens, condensados em pouco mais de 200 páginas.
Um dos grandes pontos positivos da obra é a sua capacidade de transpor para os quadrinhos a carga reflexiva e épica dos textos sagrados. Por esta razão, ele deve ser lido como um romance e não como uma leitura de fim de tarde. Se você conseguir entender que Gênesis de Robert Crumb é O Poderoso Chefão dos quadrinhos e não uma mera Sessão da Tarde, já é meio caminho andado.
A arte de Crumb segue a fórmula que o consagrou: mulheres voluptuosas e "atributos" desproporcionais, muitas hachuras, e é claro, sexo. Alías, sexo é o que não falta na obra, impulsionado pelo teor bílblico não exposto claramente nos textos que conhecemos. Mas convenhamos, a depravação está lá, mas nada que justifique os ânimos inflamados dos religiosos e velhinhas carolas mundo afora.
O ponto negativo da obra não vem necessariamente dele, mas sim, do texto original. Haja memória para gravar todos os nomes e compreender a organização das linhagens bíblicas.
Enfim, Gênesis de Robert Crumb é essencial para quem admira bons quadrinhos livres de amarras e padrões. E, não custa nada dizer de novo: consuma com moderação.
NOta: 9

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